- Amanhã tenho que voltar pra casa - ele disse.
- Tá, tudo bem. Mas aconteceu alguma coisa?
- Não, não, é problema lá em casa, nada de mais.
Grunhi um "hm" e depois de uns minutos retornamos pra casa. Fui direto pro banheiro me "desmontar", coloquei o celular tocando uma lista de musicas brasileiras e aumentei o volume, deixei-o em cima da pia e fui ajeitando o chuveiro pra temperatura quente e logo após fui ao banho, não foi demorado dessa vez, estava com preguiça de passar óleo na pele e todos os mimos. Porém quando saí do banheiro caprichei no cheiro, passei um hidratante bastante conhecido, era de uma marca famosa e depois passei um perfuminho atrás das orelhas e no pescoço. Peguei um pijaminha da pequena sereia no guarda roupas, esse era meu preferido, minha tia havia comprado só pra me paparicar no dia que fiquei de recuperação pela primeira vez, no primeiro ano do ensino médio, nesse dia eu chorei infinitamente por medo de reprovar, é marcado por isso esse pijama. Depois decidi ir procurar o Gui, fui até o quarto onde ele ficava no andar de cima, a porta estava entre aberta. Abri a porta de uma vez só e acabei machucando ele que estava sentado atrás da porta. Fiquei com dó e dei um grito de susto dele ali, mas ele ma acalmou e disse que não era nada, continuava bem e não machuquei tanto assim. Me convidou pra entrar, mas na realidade eu já tinha entrado lá.
- Gui?
- Diga.
- Por que tava no chão?
- Tava pensando aqui - ele se levantou e se jogou na cama, deitando de bruços - tantas coisas tão acontecendo...nunca pensei que esse ano fosse tão louco, sabe?
- Nem eu - puxei um puff e sentei do lado dele, ficando cara a cara - quer compartilhar algo? Eu já tou enxergando que tem algo que não tá indo bem, pode me contar, eu juro que não conto pra ninguém. Foi aquela ligação né? Quem era?Vai, me conta - chacoalhei ele.
- Se eu te contar vai ficar com raiva, que eu sei!
- Conta poxa.
Me abaixei um pouco pra ficar olhando pro rosto dele e falar de boa, ele estendeu a mão e tirou a franja do meu olho.
- Desculpa tá? Jura que me perdoa? Jura que vamos continuar de bem se eu contar?
- Af Gui você diz que eu não confio em você, mas você que não tá confiando em mim. Lembra daquele dia na praia? Antes de vir pra cá..que eu te falei que nunca vou ficar com raiva de você, eu simplesmente não consigo. Feiticeiro! Me enfeitiçou.
Ele ria, o que aliviou meu coração e já soube que não era nada grave. Ele sentou na cama e ficou de frente pra mim, segurando minha mão.
- Sabe aquela ligação no dia do acampamento que eu recebi? Que eu disse que tava de férias e até pude ficar contigo todos os dias?
- Lembro, e aí?
- Era a Giovana, minha namorada.
- Namo o que? - soltei a mão dele e levantei.
- É Bruna, minha ex namorada, é que ela ia viajar e aproveitei isso. Por isso disse que tava de férias, assim tava de férias dela, porque ela infernizou todos os namoros que eu tive depois dela, eu não queria que acontecesse isso com a gente, aí aproveitei que ela saiu de viagem pra poder ficar contigo.
- Mas vocês ainda tão juntos?
- É...a gente deu um tempo no namoro, não estamos juntos.
- O que ela queria?
- Me ver, ela quer conversar.
- Ah, eu sabia, meu Deus, era bom demais pra ser verdade, você solteiro me correspondendo. Nossa como fui burra - comecei a andar de um lado pro outro - então tava me usando esse tempo todo? Eu era uma diversão depois do seu término de namoro? Muito bem Guilherme, palmas pra você, pegando a fãzinha. O incrível é como seus amiguinhos acobertaram isso tudo, o David, meu Deus o David ficou me ajudando pra ficar contigo, eu não tô acreditando.
- Bruna, calma, não é nada disso, eu não te usei, não é isso. Eu fiquei contigo porque gostei de você e não tô com ela agora, a gente não tá junto, me entende!
- Entender o que? Me diz...amanhã você volta pra sua vidinha de filho de papai, pega quantas quiser, volta com a namorada e a boba fica aqui, sozinha, sem o cara que ele acha que gosta do lado, foi cruel Guilherme. Mas tudo bem, eu supero essa.
- Superar o quê? A gente vai ficar junto e esquecer dela, só finge que eu nem toquei no nome dela, esquece, eu quero você!
Ele se levantou e veio ao meu encontro encostando seu corpo no meu. Falou baixinho pra mim:
- O que aconteceu entre mim e ela é passado, eu conheci você, você entrou na minha vida e não vai sair assim tão fácil - ele sorriu e segurou por trás da minha nuca.
- Será que devo acreditar? Eu realmente não sei.
- Então se você não acredita devemos terminar aqui, não posso ficar com alguém que não confia em mim.
- Tá bom então. - Me fiz de forte e saí de perto dele caminhando até a porta. Ele até chamou meu nome, mas deixei por isso mesmo, eu não quis parecer dependente dele, essa foi a última conversa que tivemos. Dia seguinte ele foi embora e só nos despedimos com um tchau, nem sorridente nem triste, foi só um tchau e uma acenada, o que estranhou a todos. Era quase 12:30 e fui organizar o material escolar e me arrumar. Ka já estava estudando em uma escola diferente da minha, estávamos então todos os dias com novidades uma pra outra dessa primeira semana de aula. Ela não tinha se enturmado ainda, mas eu sim, do tipo "Me empresta borracha" ou "O que diz ali no quadro?" eu falava com outros, só isso. Mas aos poucos iam me conhecendo.
Três semanas depois.
Tudo corria nos conformes, eu já tinha conhecido meninas e meninos legais na classe, encontrei algumas que gostavam do mesmo estilo musical que eu. Entrei em dois grupinhos, o dos meninos que tinha o Léo que era um fofo comigo, ele sabia que eu não enxergava bem e sempre me passava seu caderno para eu copiar a matéria. Sorte minha por ser amiga dos meninos, porque o grupinho das meninas era cheio de patricinhas e isso não se encaixava comigo. A Ka soube da minha intimidade com o Léo e o Breno, afinal eu contava tudo pra ela, convenhamos que ela ficou com um pouquinho de ciúme porque eu não parava de trocar mensagem com os meninos quando estava em casa, eles até me pediam conselho sobre seus rolinhos. E eu pedia pra eles também conselhos sempre direcionados a como esquecer o Gui, mas era pouco tempo de separação ainda, não era questão de três dias pra esquecer alguém assim. Na aula de física que tive no terceiro tempo na segunda feira o Léo ficava virando e comentando coisas engraçadas tipo nada a ver com a aula, ele queria me animar naquele dia. Porque toda segunda é segunda! Tocou o sinal e desci com a Camila e o Léo pra lanchar, segurando no braço dele e no braço dela, o Léo era um rodízio da gente, dias ficava com ela e dias comigo, mas naquele dia decidimos andar os três. Pedimos três milk shakes de morango com chocolate e nossa aquilo era horrível, como eles conseguiam passar o ano todo tomando aquilo, foi o que me disseram que sempre pediam o mesmo sabor. Eu não consegui, joguei o meu no lixo e comprei uma coca acompanhada de sanduíche.
- Vem cá Léo, porque o Breno não desceu com a gente?
- Ele tá bolado, terminou com a namorada dele, levou chifre hahaha - ele ria enquanto contava - ficou sabendo pelos amigos, a mina ficou com um amigo dele.
- Nossa que escrotos. Ai desculpa pela palavra gente, desculpa, saiu! - coloquei a mão na boca.
Léo pegou o celular dele e plugou os fones, dava pra escutar a musica de longe, fui tentar ver e ele assistia esse vídeo:
- Mas então dedica essa musica pra alguém, é?
- Não, não, por que? Mas acabei de achar pra quem dedico né Bruna? Pronto é sua, só de mal porque tu gosta mais de sertanejo.
- Af, me erra tá? Deixa meu estilo musical seu besta.
- Nossa que estressadinha!
Nós dois rimos.
- Tou nem um pouco afim de encarar a aula de biologia depois do intervalo, acho que vou ficar por aqui Bruna.
- Sério? Só não fico porque não quero ir parar na diretoria, a aula de biologia tá chata né?
Ele não respondeu e continuou com o olhar fixo no celular, já o meu começou a vibrar no bolso, eu olhei e era ligação da Ka, atendi e começamos a conversar, ela me falando das notícias do twitter, me informou que Gui estava namorando de novo, que o boato já tinha corrido nos quatro cantos da rede social. Eu fingi não ligar, mas foi um baqui pra mim, senti meu coração ficar apertado e saí de perto do Léo, fui sentar numa cadeira de uma mesa vazia e só esperei ela desligar pra começar a chorar, Léo viu e veio me acalmar, perguntando o que era e eu não queria falar, mas consegui:
- Você nunca vai entender Léo, você nunca gostou de ninguém de verdade, não vai entender o que é saber que a pessoa que você ama tá com outra, abraçando ela, beijando.
- Relaxa, eu sei que nunca senti isso por ninguém, mas não precisa ser ignorante, tou aqui contigo. Calma!
Ele apoiou minha cabeça em seu ombro e me abraçou, passando a mão no meu cabelo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário